E.C. Radar: a luta e as vitórias do futebol feminino na década de 1980 - JogaMiga
Radar EC - Jogadoras futebol seleção feminina

E.C. Radar: a luta e as vitórias do futebol feminino na década de 1980

No final da década de 1970, quando a ditadura começava a dar sinais de falência, o futebol de areia feminino começou a virar moda no Rio de Janeiro. Eram diversos clubes com nomes de ruas diferentes do bairro de Copacabana. O crescimento do esporte foi tanto que logo marcas se interessaram e assumiram alguns times, como o American Denim, que reservou um espaço na vitrine de sua loja só para exibir os troféus do seu time feminino. Campeonatos aconteciam e levavam, em média, um público de 4 mil pessoas por jogo (quase igual ao do Campeonato Carioca dos homens de 2016, não é mesmo?).

Nesse meio tempo, em 1979, a lei que proibia as mulheres de jogarem futebol foi, finalmente, revogada. Mas calma, o futebol feminino ainda não estava regulamentado.

Surge a figura de Eurico Lyra Filho, então responsável pelo Belfort Roxo/Gang, ele se juntou ao Esporte Clube Radar (clube fundado em 1932) e, em 1981, fundou o primeiro time feminino do clube.

O começo foi na praia e o time já contava com patrocínios de peso, e tornando Radar/Le Coq Sportif, Radar/Unibanco, Radar/Mondaine, entre outros. Porém, nem sempre (ou quase nunca) o dinheiro dos patrocinadores chegava às mãos das jogadoras.

Em 1982 surgiu, no campo, o maior clube brasileiro de futebol feminino. Ao montar o time, Eurico tinha um plano claro: regulamentar o esporte, criar campeonatos e então uma Seleção Nacional Feminina. E ele conseguiu.

Veja também:  Futebol na Era Meiji: Pesquisa revela que futebol de mulheres era popular no Japão imperial

Conseguiu, muito provavelmente, sem pagar salários as jogadoras. Apesar do bom investimento dos patrocinadores, consta que em 1984, eles pagavam salários entre 45.000 e 60.000 cruzeiros para as jogadoras. Mas muitas desconhecem esse fato. Reconhecida era apenas algumas gentilezas que Eurico fazia, como ajuda de custo para as jogadoras que viviam em comunidades distantes e ajuda para conseguir emprego para familiares.

Mas elas lutaram. Sem ganhar, mas vendo a esperança de receber no futuro, treinavam mais de 3 vezes na semana e começaram a participar de campeonatos. Primeiro, o Campeonato Carioca organizado pela FERJ e, logo depois, a Taça Brasil organizada pela CBF. E aí o time começa a entrar para a história.

O primeiro time do Radar a entrar em campo foi escalado com Meg, Pelezinha, Fernanda, Cláudia, Maradona, Maria Helena, Elza, Fia, Celinha, Rata e Salaleto e nunca perdeu uma Taça Brasil, foram seis consecutivas até o campeonato ser extinto (1983, 1984, 1985, 1986, 1987 e 1988). Foram mais seis campeonatos cariocas: 1983, 1984, 1985, 1986, 1987 e 1988. Em 1989, não passou em branco novamente, conquistou o Torneio Brasileiro de Clubes.

Uniforme utilizado pelo E.C. Radar
Uniforme utilizado pelo E.C. Radar

O time foi tão dominante que foi chamado para disputar campeonatos no exterior e preparem-se para os números: 71 jogos internacionais, 66 vitórias, três empates e apenas duas derrotas. Em 1988, o Radar chega ao auge: o time passa a representar a seleção brasileira. E no primeiro campeonato, Torneio Mundial de Futebol Feminino da China, fica em terceiro lugar.

Veja também:  JogaMiga lança plataforma de financiamento coletivo dedicado ao futebol feminino

Infelizmente, o tempo entre o auge e o fim foi curto. Em 1990, depois de campeonatos esvaziados, nenhum apoio da mídia e pouca (ou quase nenhuma) remuneração para as jogadoras, campeonatos deixaram de ser organizados e o Radar encerrou as atividades do time feminino. Mas o legado permaneceu vivo: a seleção brasileira que disputou a Copa do Mundo de 1991 teve como base o Radar. Até 1996 víamos jogadoras do Radar pelo time, como a icônica goleira Meg.

Goleira Meg Seleção Feminina de Futebol
Meg (dir) vestindo a camisa número 1 da Seleção Brasileira

Por isso, no mês das mulheres, temos o dever de lembrar a história do time mais vitorioso que o futebol feminino brasileiro já teve. Afinal, o Dia da Mulher não é sobre distribuir flores. É sobre lutar por direitos para as mulheres e também para relembrar, agradecer e celebrar quem já lutou por esses direitos.

Vamos celebrar o E.C. Radar. Agradecer pela luta, pela insistência, pela força de vontade quando o retorno financeiro era ainda pior do que é hoje. Obrigada por continuarem, por tentarem, por vencerem. Obrigada por abrir caminhos para Martas, Critianes, Formigas. Obrigada por abrirem caminho para todas nós.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *