Em maio de 2017 mais de 10 mil pessoas foram assistir um impiedoso 12×0 contra o Peru. A seleção feminina jogava muita bola nos gramados do estádio Nacional de Santiago diante dos olhos motivados dos torcedores, que compareceram massivamente mesmo que a imprensa não tivesse divulgado sequer uma nota sobre a partida.
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Mas antes dessa partida, a seleção chilena de futebol feminino havia ficado mais de 2 anos sem pisar em um campo. O motivo? Haviam sido removidas do ranking da FIFA por serem consideradas uma seleção inativa. E não estavam sozinhas: até 2016 mais da metade das seleções femininas latino americanas também eram consideradas “inativas”. Por diversas razões – no Chile e nos demais países – o futebol feminino estava sob imenso abandono. Desde o machismo enraizado até escândalos de corrupção nos mais variados órgãos de futebol nacionais, essa era uma realidade triste e injusta em que o Chile se encontrava.
Iona Rothfeld, jogadora da seleção chilena da época, estava muito revoltada. Não só porque lutaram muito por esse espaço no ranking da FIFA. Mas pelo desrespeito. Muitas atletas chegaram a pagar para se manter jogando na liga nacional e na seleção. Todas ali compartilhavam um amor profundo pelo futebol, desses impossíveis de ignorar. Um sonho de representar o Chile em campo nos estádios do mundo. E mais que isso: a vontade de ver mais mulheres terem espaço no futebol.
Sem nenhuma explicação a seleção foi desfeita e ninguém se importou. Desse contexto surgiu uma Associação Nacional de Futebolistas Femininos (ANJUFF).
Formada por um grupo de jogadoras, dentre elas a própria Rothfeld – hoje diretora da associação – e a goleira e capitã da seleção e do PSG,
Christiane Endler, elas decidiram mudar a forma como as jogadoras eram tratadas em seu país hoje e para as futuras gerações.
A seleção chilena, apelidada de La Roja, se classificou para a Copa do Mundo. O caminho até essa Copa foi duro, triste e suado. O descaso das autoridades do futebol local seguiu mesmo com o país sediando a Copa América feminina 2018. Mas elas não desistiram. Com 17 jogos na temporada passada – a maior da história delas – a classificação pro mundial chegou. Com uma vitória heróica contra a poderosa seleção australiana por 3×2, elas provaram que podem sim disputar de igual pra igual com as demais potências. Esse foi o caminho do Chile para a França. Daqui pra frente, o objetivo é fazer história e mudar a realidade para que mulheres chilenas possam jogar futebol sem passar pelas mesmas dificuldades.
2 thoughts on “Chile ressurge das cinzas para inspirar futuras gerações”