A CBF (Confederação Brasileira de Futebol) anunciou, no último dia 2, Aline Pellegrino e Duda Luizelli como os novos nomes que comandarão o futebol feminino brasileiro.
• Encontre um lugar para jogar futebol feminino em sua cidade. Conheça o Mapa do Futebol Feminino.
Na manhã desta terça-feira (dia 08/09), uma coletiva de imprensa online da Federação Paulista de Futebol reuniu, além da Pelle, Ana Lorena Marche e Mauro Silva (vice-presidente da FPF e atual presidente em exercício) para a despedida de Aline como coordenadora de competições de futebol feminino da federação.
Muito do que foi discutido na coletiva girou em torno da continuidade do projeto de futebol feminino que a Federação Paulista tem feito, e como essa é uma das maiores prioridades agora, especialmente quando falamos das iniciativas que contemplam as categorias de base, que foi uma grande conquista da gestão da Pelle em termos de aplicação de festivais e evolução.
4 anos de muita evolução
Desde que assumiu, em junho de 2016, Pelle mudou a história da modalidade no estado de São Paulo, Mauro Silva chegou a dizer na coletiva que fala-se em “antes da Aline e depois da Aline”. E não à toa, já que um dos principais legados que ela deixa na FPF é o poder da transformação não só da entidade mas do futebol feminino, um trabalho que é feito sobretudo com diálogo e coletividade, coisas que ela quer levar para âmbito nacional agora como coordenadora de competições femininas na CBF.
Em sua gestão, o futebol feminino paulista virou exemplo e case de sucesso para outras federações, isso porque tudo foi feito com muita conexão entre todas as partes envolvidas e que são igualmente importantes, cada uma em sua etapa.
A grande filosofia da Pelle, que foi muito falada durante a coletiva e que foi muito aplicada em São Paulo durante os 4 anos da gestão, é que é preciso olhar para cada clube individualmente, entender seus próprios processos, limitações, objetivos e então caminhar e avançar explorando o que cada clube tem de melhor. É saber reconhecer o que pode ser feito a longo, curto e médio prazo, para que lá na frente as expectativas não acabem frustradas.
Paciência nas etapas de cada assunto e de cada clube fez com que o trabalho da Pelle nesses 4 anos de Federação Paulista fosse marcado pela consistência, e muito disso tem a ver com o fato de que, como ela mesma disse, o futebol feminino tem a vantagem de se desenvolver com a participação de todos os agentes que fizeram e fazem ainda parte de sua história, seja jogadoras pioneiras, em recém pós-carreira, em atividade, comissão técnica, etc.
Pensando em CBF
Com relação à CBF, ela explica que sua lógica de trabalho pautada no diálogo continua, já que é muito importante ouvir de todas as 27 federações o que cada uma delas sente da modalidade, e, assim como em São Paulo, entender em que momento do seu crescimento cada uma está.
Pelle reforça que entender cada contexto é o mais importante e que é preciso pensar esse início de trabalho, especialmente em um ano tão atípico como 2020, em passos pequenos, sem grandes mudanças, principalmente porque a principal prioridade da pós-paralização era conseguir começar as competições e, agora, terminá-las.
A partir dessa evolução gradual de agora, a conversa passa a ser aos poucos direcionada tanto para iniciativas que ela já conhece bem e que já funcionaram na FPF, como a grande peneira de atletas de base, por exemplo, quanto para questões no que diz respeito ao aumento do número de mulheres em cargos de liderança dentro da CBF e dentro das federações de cada estado. Sobre isso, Pelle diz que essas mudanças sempre estão no radar, por ser uma exigência da FIFA, e que é um processo que agora pode ser considerado orgânico, sempre pensando em pesar os objetivos a curto prazo para que não haja nenhuma frustração no futuro.
O mesmo pode ser dito sobre a questão da profissionalização do futebol feminino brasileiro como um todo, e nesse caso o processo começa transformando o esporte em uma atividade diária da atleta, e isso passa não só por carteira assinada ou venda de ingresso, mas por Estatuto do Torcedor, estrutura e até mesmo entender onde o “semi-profissional” se encaixa na Lei Pelé, por exemplo, que por enquanto fala só sobre futebol profissional e amador.
Pra finalizar, Pelle diz que seu trabalho é somar e na CBF não vai ser diferente, e que a repercussão da notícia foi um grau a mais de animação, já que quando o futebol brasileiro fala, todo mundo escuta.
O que esperar da gestão de Ana Lorena Marche
Depois de duas temporadas cheia de títulos com o time feminino da Ferroviária (SP), Ana Lorena chegou na FPF esse ano e já era responsável pelo desenvolvimento e fomento da modalidade. Agora, assume a posição que era da Pelle como coordenadora.
Lorena fala sobre o principal aprendizado que leva da experiência de trabalho com Pelle e, apoiada por Mauro Silva, nos deixa muito seguras com relação à continuidade desse projeto bem como a importância de trilhar seu próprio caminho dentro da federação, pensando no que já tem sido feito que destaca São Paulo das outras federações como o trabalho nas categorias de base.
Reforça que é importante reconhecer a realidade de cada clube, e que o pensamento estratégico deve continuar, especialmente aqueles que fazem sentido com o futebol feminino enquanto produto, que tem não apenas números mas necessidades diferentes, e, especialmente, saber continuar trabalhando e explorando a demanda reprimida muito clara que a modalidade tem, a tirar, por exemplo, os recordes quebrados não só no público em estádio mas também nas transmissões online e na televisão.
Quando falamos não só em categoria de base mas também para atletas adultas, falamos no apoio psicológico que muitas vezes é necessário, e que, apesar de não ser importante apenas no feminino, merece o recorte com mais carinho para a modalidade. Lorena diz que há um trabalho para que isso seja cada vez mais discutido e que a Ferroviária faz um trabalho que já é exemplar e pode servir de modelo para outros clubes.
Durante a pandemia, uma série de vídeo-conferências foram feitas pensando nesses aspectos psicológicos e sociais focando em conversas sobre base, pós-carreira, gerenciamento financeiro, saúde da mulher, e que todas essas áreas são áreas que vão capacitar essas profissionais, já pensando numa visão mais sistêmica.
O trabalho de aprimoramento, modernização e diálogo dentro da federação é um legado de Aline Pellegrino que continua, e que mostra que o futebol feminino paulista segue em boas mãos.